“MADIALEVA” 
O tio de Sofia Oriana  
tinha que pagar umha peseta  
por cada palavra que dizia  
em galego na escola.  
Aprendeu na escola  
que se falava a sua língua  
perdia dinheiro,  
que lho roubavam.  
   
Havia outros castigos  
por todo o país  
para silenciar o idioma.  
Ao tio de Brais Cores  
metiam-lhe umha pedra  
nos petos do pantalom  
por cada palavra  
que pronunciava em galego.  
E Luz Fandinho conta  
-podes ver o vídeo na internet-  
que as monxas lhes ponhiam orelhas de burro  
às nenas por falar galego  
e um cartaz nas costas que dizia:  
Yo soy una burra. Yo no se hablar.  
   
Ou aquel neno de Calo:  
-De rodillas!, berrou a mestra,  
Y escribes cien veces  
"No se dice chan, se dice suelo"  
E dixo el:  
-Señorita... de geonlhos ponho-me no chao, nom?  
À mestra quase lhe dá um ataque.  
   
Helena no colégio, Carvalhinho,  
que veu duas pegas pola janela  
e chamou-lhes pegas,  
foi castigada a rezar três rosários  
porque falar galego tamém era pecado.  
E a Santi em Vigo  
fechavam-no num armário.  
E isto contou-lho Marisa a Ana Moreiras:  
A mestra...  
Sabe que nos facía?  
Metíanos estrugas nas bragas  
se nos escoitaba falar en galego!  
  
Também é conhecido  
o castigo do anel.  
O professor entregava um anel  
de chumbo  
à primeira criança  
que escuitava falar galego.  
E essa criança passava o anel  
à seguinte criança  
que ouvia falar galego,  
e esta a outra e assim  
continuamente.  
O anel ia passando  
de mao em mao,  
de dedo em dedo,  
de medo em medo,  
até que ao final da jornada  
o profesor perguntava  
Quien tiene el anillo?  
E o castigo era a vara,  
a tortura e o sangue.  
   
Hoje continua a suceder,  
adaptando o método aos tempos.  
Nom vaiamos pensar  
que um povo deixa de falar  
a sua língua voluntariamente  
ou por inércia.  
Por exemplo:  
Umha colega foi o primeiro dia de aulas  
à escola  
em Vigo  
e dixo-lhe à mestra:  
- Eu queria contar-lhe  
que a minha filha fala galego...  
E a mestra contestou:  
- No se preocupe, en unas semanas  
ya estará hablando castellano  
y solucionamos el problema.  
   
Hoje aínda há muita gente  
que nom fala galego por medo  
a um anel invisível,  
a pedras invisíveis nos petos,  
a um cartaz invisível nas costas,  
a perder dinheiro,  
a ficar dentro num armário...  
Porque foi o que aprendeu na escola.  
Aínda hoje as crianças aprendem  
na escola  
a viver o galego como um estigma,  
umha marca invisível.  
   
Por isso,  
cada palavra que pronúncias  
em galego  
combate um prejuíço,  
cada palavra que pronúncias  
em galego  
devolve umha moeda roubada  
ao povo,  
cada palavra que pronúncias  
em galego  
libera umha criança do peso dumha pedra.  
Cada palavra que pronúncias em galego  
muda a história.  
  
Foto: ilustraçom do livro "Madialeva", de Ana Moreiras. Aira Editorial, 2019.  
  
Ana Moreiras, engadim essas linhas tuas... Obrigado!
 
       
				 
				 
				 
				 
				 
				










Mónica
Eliminar comentario
Seguro que queres eliminar este comentario?